sábado, 10 de janeiro de 2009

Dualidade



Sinto por perto uma cigana dentro de mim.
Louca, desmedida sem pressa, sem fim. Ela pode tudo!
Dançar, cantar, rodopiar...

Sem teto... só uma carroça,
Saia rodada e blusa de cetim,
Pele cheirosa... boca cheia de carmim.

Sem vergonha brinca, sorri... canta, se exibe...
Sente o prazer de estar aqui...
Cigana de vários amores, mas ela é a dona de si!

Há... mas sem demora, a vista se torna nebulosa e aparece uma santa...
Vem incorpora! Apossa-se de mim!
A obreira a padroeira que aparece... E faz a cigana sumir!

Tira tudo... se cobre com o manto do pecado, do pudor da mesura do desamor.
Santa que insiste em aparecer. Vêm fazer sacrifícios, penitências, desavenças...
Só a dor sentir.

Roupa podia cheiro de naftalina, casa de pedra, boca enrugada,
Cara lavada, sem viço...
...seca, paralisada! Só para não sentir.

Coisa suja e crua essa santa nojenta...
Que saia de mim! Esconjuro-te... Desapareça!
Para que eu não enlouqueça... deixa a cigana surgir.

Há... vem cigana...vem cantar, vem dançar...
Acende a fogueira, toca o pandeiro... gira...rodopia...sem coreografia sem senso. Atira flores aos homens, inveja as mulheres.

Brota por dentro que nem acalanto, trás o gozo inebriado sem pecado.
Lê a sorte... mostra riqueza
...grandes amores, poucos dissabores.

Há... mas vem logo, vem tomar conta de mim !
Antes que eu enlouqueça e essa santa maldita apodreça...
...dentro de mim!

Cristina Coelho

2 comentários:

  1. Se acaso fores a menina do Estreito
    acostumavas a dancar em cima da mesa onde
    jogavamos truco,Afranio eu e Rubao na cozinha
    Dna Tereza ao fogao,na sala seu Vicente ao violao, no ar cheiro bom do cafe misturado a melancolia de uma tarde chuvosa que embalava sonhos de nossa geracao.
    samukadk@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  2. Olá Samuel sou eu mesma...rsrs,quanto tempo, estou aqui fazendo poesias para alegrar vocês leitores. um grande abraço.

    ResponderExcluir