sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

Coroa de espinhos


Era uma dor constante, que limitava e abafava o sopro da vida.

Foi dada, foi colocada como herança e ficou como lealdade a um aprisionamento sem sentido. Era assim nessa santidade mal resolvida e descabida que ela estava inserida.

Rainha da dor!

Por anos e anos a fio...um servir sem saber, um viver de sofrimentos e lamentos.

Como se a coroa de espinhos fosse parte dela...

Porém, depois de tempos buscando entendimento por todo aquele sofrimento, aconteceu a quebra do encantamento.

E num grande e poderoso movimento ela limpou...e limpou...

Teve guerra, fome, frio, peste, abandono, cegueira, aleijume e desamor...e ela limpou...e limpou...

Foi Bruxa queimada, escrava acorrentada, freira enclausurada, moça parida abandonada, benzedeira subjugada...mulher de rua chamada....

Tantas memorias por ela herdada, da cultura, da sociedade e da família amada.

E ela limpou...e limpou...e limpou...

A quebra do encantamento se deu!

A coroa de espinhos se desintegrou e o sopro da vida de novo voltou!

Trouxe paz!

Trouxe luz!

E ela se conscientizou do seu valor...

Dos seus direitos que conquistou...

Se reuniu com outras mulheres e para ela avisou: “Nossa coroa é de autonomia, respeito e amor. ”

Tina Coelho