sábado, 25 de abril de 2020

Ela



E ela voltou a viver!
Não...não é uma fênix, não é uma pessoa ideal.
É só uma mulher real...
Que estava troncha, descabelada, amarotada e agora volta a viver!
Da sua maneira, do seu jeito de ser.
Alegre, emperiquitada, desavergonhada...
Percebeu que o tempo é agora...
É tempo de viver!
Tina coelho

Dividir com as onças





A história era minha, minha vida, minha caminhada...
Era para ser revisitada e para isso fui convidada, pela moça de pés no chão e olhos de onça.

E assim no chão deitada, com o corpo doido pelo peso do tempo...um tempo de fardos e de submissão.

A moça de olhos de onça tocava o tambor e chamava por minha alma perdida...esquecida, submetida.
O som do tambor foi me levando pelo vale de lágrimas das dores e da rejeição...fui descendo na dor e no choro do desamor, até que cheguei na mata. 

 Sentindo de longe a fala da moça fui deitando na terra, e como um sorvete fui derretendo, minha carne, meu sangue e meus ossos para o fundo da terra foi caminhando. 

Foi quando me vi terra! 

Sentindo só o pulsar do tambor e as batidas do meu coração, pude sentir outro coração...
O coração da terra! 

E assim num ritmo cadenciado o meu coração e o coração da terra, foram batendo juntinhos, num único som.

E a voz da moça com olhos de onça ficou igual voz de passarinho...piando fininho.

Eu me desintegrei... dei a carne, o sangue e os ossos para minha mãe terra.
Foi uma benção, foi libertação entregar para ela o que é dela!

E firmei compromisso...
Vou ter um pedaço dela, terra querida, para descansar os meus ossos...E dividir com as onças!

Tina coelho