domingo, 18 de janeiro de 2009

Passarim...

Passarim...

Sou assim igual um passarinho...
sozinho...sozinho...

Ai...que eu quero um ninho, pra ficar bem quentinho,
quero comida no meu biquinho...

Sol brilhante de dia...chuva mansa à tardinha...e de
noite estrela e lua cheia.

Música de cachoeira...brisa mansa e solteira...sapo
coaxando...grilo cricrilando...

Cheirinho de flor...e um amor de passarinho...pra
nunca mais ficar sozinho...sozinho.

Cristina Coelho

sábado, 10 de janeiro de 2009

Tomates ao Lixo

A Menina é magra quase esquelética,
arrasta a chinela e mexe no lixo,
cabelo estorricado, sol do meio dia...

Procura tomates,mexe remexe...cata aqui e ali,
_Tá podre...tá bão! Repete sem ouvir.
Escolhe no lixo, os restos que todos deixam ali.

Mão na cintura, cara cansada, espera a amiga.
_Romilda vêm aqui...tá cheio de tumate bão !
Risos se ouvem, alegria de quem achou e compartilhou.

A menina tem pouco...casa velha, mãe trabalhadeira.
Com dificuldades tem comida na mesa, mas sofre...
Com a fome da amiga e de tanta gente na redondeza.

O lixo fede! Cheiro de podre...
Cheiro de gente...catadora de lixo,
sofrida e descrente !

As meninas correm de mãos dadas, risos soltos,
vão dividir, compartilhar...
Tomates ao lixo... que alguém acaba de jogar !
Cristina coelho

Dualidade



Sinto por perto uma cigana dentro de mim.
Louca, desmedida sem pressa, sem fim. Ela pode tudo!
Dançar, cantar, rodopiar...

Sem teto... só uma carroça,
Saia rodada e blusa de cetim,
Pele cheirosa... boca cheia de carmim.

Sem vergonha brinca, sorri... canta, se exibe...
Sente o prazer de estar aqui...
Cigana de vários amores, mas ela é a dona de si!

Há... mas sem demora, a vista se torna nebulosa e aparece uma santa...
Vem incorpora! Apossa-se de mim!
A obreira a padroeira que aparece... E faz a cigana sumir!

Tira tudo... se cobre com o manto do pecado, do pudor da mesura do desamor.
Santa que insiste em aparecer. Vêm fazer sacrifícios, penitências, desavenças...
Só a dor sentir.

Roupa podia cheiro de naftalina, casa de pedra, boca enrugada,
Cara lavada, sem viço...
...seca, paralisada! Só para não sentir.

Coisa suja e crua essa santa nojenta...
Que saia de mim! Esconjuro-te... Desapareça!
Para que eu não enlouqueça... deixa a cigana surgir.

Há... vem cigana...vem cantar, vem dançar...
Acende a fogueira, toca o pandeiro... gira...rodopia...sem coreografia sem senso. Atira flores aos homens, inveja as mulheres.

Brota por dentro que nem acalanto, trás o gozo inebriado sem pecado.
Lê a sorte... mostra riqueza
...grandes amores, poucos dissabores.

Há... mas vem logo, vem tomar conta de mim !
Antes que eu enlouqueça e essa santa maldita apodreça...
...dentro de mim!

Cristina Coelho