sábado, 12 de novembro de 2022

 


Minha reza

Que meu sangue, minha história e meus ossos sejam dignos de estar aqui!

Que todos os que vieram antes de mim sejam purificados e eu digna do caminho que percorreram para minha chegada!

Que minha coragem e minha fé me guiem pelos caminhos do vale das sombras e da morte, que muitos desejaram a mim.

Que meu sangue misturado, me mostre sempre os caminhos da sorte.

Que todos que passaram fome, frio, medo e solidão...possam dançar e cantar hoje através de mim. Quando faltou lenha para o fogo, comida para o caldeirão...eles se encheram de coragem e me protegeram só com o amor e o coração.

Que eu seja sempre digna do meu sangue, meus ossos e minha história.

Que essa minha verdade que nunca precisou mentir, ludibriar, humilhar e maltratar seja sempre parte de mim.

Que hoje e sempre eu honre ...meu sangue índio, preto que a outros foram se juntando e amarelando dentro de mim!

Que todas que pariram no aperto, no grito...na calada da noite sejam redimidas por mim.

Que eu tenha a mesma gana e coragem para deixar escrito para as que viram depois de mim.

Que meu sangue, meus ossos e minha história sejam dignos de mim.

Tina Coelho

 

                                                                         

Qual parte da história você perdeu?             

Não, não era por mim ou por você!

Era por eles, por todos nós...

Pelas crianças, pelos vulneráveis, por aqueles que sempre vão precisar de proteção.

Pela saúde, pela educação, pelo meio ambiente, pelo ar que respiramos, pela comida que alimenta.

Qual parte da história você perdeu?

Não era para você!

Não era para mim!

Era para eles...

Não era para seu cartão, sua empresa, sua mordomia fria...

Eram Crianças, Jovens, mulheres, anciões...todos precisando de proteção.

Qual parte da sua, da nossa história houve uma interrupção, e você ficou cego, e não viu grande alma a grande nação?

Somos gregários, precisamos nos unir para evitar a extinção.

É sobre seus filhos e filhas, meus filhos e filhas...nossos netos e netas e de todos os irmãos.

Que parte da história você não entendeu e perdeu a razão?

É meu irmão...” É sobre a vida”...sinto te dar esta informação!

Vidas dos que aqui estão, precisando de comida, amparo e união.

Vidas dos que se foram sem razão!

Vida do planeta...

Acorda, não é sobre seu umbigo não...

Qual parte da história você perdeu?

Me diga meu irmão...

 

Tina Coelho

 

 

domingo, 6 de novembro de 2022

 


Paraquedas

Eu tenho perdido o medo de abrir o paraquedas da vida para realizar meus sonhos e desejos, e assim experimentar o prazer da vida.

Eu analiso, avalio, planejo e corro os riscos e pago o preço que a vida cobra.

Não é um salto cego...não, não!

É um risco analisado e calculado antes de ser vivido.

Porém, todo risco exige ...”CORAGEM”...

CORAGEM para olhar para minhas crenças, minhas limitações, meus esquemas de comportamento.

CORAGEM para ver aquilo que não posso mudar...

CORAGEM para as inúmeras possibilidades de fazer diferente, de encontrar novas estratégias.

CORAGEM para saber que a vida é feita de dores e alegrias.

Vida e morte dentro de mim...

Puxar a corda do paraquedas...mostra o medo, olhar para o medo é olhar para a vida.

A Vida exige CORAGEM!

Eu abri a cordinha do meu paraquedas e pretendo fazer muitos voos, e deixar o meu sangue fluir...livremente e em paz.

Tina Coelho

 


Meu corpo

Meu medo vem do meu corpo, das repressões que passei na minha história de vida, das memórias de ancestralidade registradas nas minhas células. Eu sou um processo de cura em construção, em andamento...

Meu medo é visceral e ancestral, eu olho para ele através do meu corpo. Sentimentos e pensamentos que chegam de madrugada, do externo que quer me sucumbir, eu respiro...e busco em mim a vida que tenho aqui. Sabendo da minha instabilidade, aceitando a minha vulnerabilidade em existir, por isso, cada vez mais busco saber e sentir no meu corpo...quem eu sou?

O que eu faço aqui?

Tina coelho

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

Coroa de espinhos


Era uma dor constante, que limitava e abafava o sopro da vida.

Foi dada, foi colocada como herança e ficou como lealdade a um aprisionamento sem sentido. Era assim nessa santidade mal resolvida e descabida que ela estava inserida.

Rainha da dor!

Por anos e anos a fio...um servir sem saber, um viver de sofrimentos e lamentos.

Como se a coroa de espinhos fosse parte dela...

Porém, depois de tempos buscando entendimento por todo aquele sofrimento, aconteceu a quebra do encantamento.

E num grande e poderoso movimento ela limpou...e limpou...

Teve guerra, fome, frio, peste, abandono, cegueira, aleijume e desamor...e ela limpou...e limpou...

Foi Bruxa queimada, escrava acorrentada, freira enclausurada, moça parida abandonada, benzedeira subjugada...mulher de rua chamada....

Tantas memorias por ela herdada, da cultura, da sociedade e da família amada.

E ela limpou...e limpou...e limpou...

A quebra do encantamento se deu!

A coroa de espinhos se desintegrou e o sopro da vida de novo voltou!

Trouxe paz!

Trouxe luz!

E ela se conscientizou do seu valor...

Dos seus direitos que conquistou...

Se reuniu com outras mulheres e para ela avisou: “Nossa coroa é de autonomia, respeito e amor. ”

Tina Coelho

sexta-feira, 13 de maio de 2022

 


Vó Geralda


Vó Geralda...Vem aqui!

Vem pisando miudinho...segurando a barra da saia chega pra ´perto de mim.

Vem dançar aquela dança que tem seu requebrado, seu gingado.

Aquela dança que tira mandinga, quebranto e mal olhado.

Ninguém alcança essa ternura, essa brandura...

Só quem experimente sente a verdade mais pura.

A pureza de um amor que só pode vim de Deus nosso senhor.

É flor brejeira essa preta velha benzedeira...

Esses olhos de jabuticaba essa fala de manjericão.

Vem comigo, segura minha mão, dança comigo...

Sei que a senhora não me desampara.

Eu sinto todo dia e toda hora a sua proteção...

Ela é luz e firmeza no meu coração.

Vó Geralda dança comigo e alegra meu coração.

Sou fia vossa...sou de carne, sou de osso...

Sou benzedeira...

Sou galho da sua videira.

Tina Coelho