domingo, 31 de agosto de 2014

Reconexão




No meio da tarde Path acordou de um sonho, estava pensando em tirar apenas um cochilo depois do almoço delicioso que Elvira, sua secretaria, havia preparado com tanto esmero. Ervilhas tortas com purê de batatas, seu prato preferido. Todas as quintas-feiras Elvira prepara essa iguaria, juntamente com a sobremesa de arroz doce, lembranças de sua infância.

Ficou combinado desde que ela veio trabalhar em sua casa, um cardápio escolhido por ambas, porém sempre repetido nos mesmos dias da semana. Era uma característica de sua personalidade repetir e criar uma rotina.

No entanto naquele dia o que era para ser uma pequena soneca, de apenas alguns minutos, se transformara em sono profundo, do qual ela só despertou perto das 16:000hs de uma tarde ensolarada e quente.

Acordou com um gosto de manjericão na boca e a experiência vivida em sonho por todo seu corpo. Quando adormeceu sentiu que um leve torpor provocado pelo calor, a levava até um caminho entre árvores as margens de um estreito riacho. Tudo normal até que ela começou a ouvir um canto indígena e ao longe um corpo foi se delineando. Uma linda figura de uma índia com um bebê preso junto as costas por uma esteira fina e colorida de palha lustrosa.

Aquele vulto agora se mostrava por inteiro, com cheiro, cor e textura de gente, cabelos negros e dentes brancos com o rosto pintado de preto e vermelho. A índia com gesto caloroso e acolhedor a convidava a seguir com ela pelas margens do pequeno riacho.

Foi caminhando mansamente e cantando aquela canção suave e doce como uma cantiga de ninar. Em pequena piscina formada por pedras e florzinhas brancas de um arbusto que rodeava por toda margem, a índia sem parar de cantar a convidou a tirar suas roupas e mergulhar no raso riacho, ela não hesitou, respondeu com um sorriso e um pensamento, era assim que o diálogo entre elas acontecia, pensamento e sentimento, uma bela maneira de conversar.

Tirou a roupa e foi colocando os pés devagarinho sentindo a temperatura fresca da agua límpida do riacho.

Mergulhou e sentiu todos os átomos de seu corpo vivos, uma gostosa sensação de poder sem posses adentrava seu coração e sua alma.

Sem perder aquela voz inebriante ficou boiando e olhando para o azul celeste do céu aberto sobre seu corpo. Sua alma integrou-se de tal forma que por instantes pensou ser aqueles peixinhos que mordiscavam suas pernas.

Quando se fundia a agua e a natureza outra música chamou por ela. Agora um índio bem velho a convidava para adentrar uma grande oca...Assim com o corpo molhado e nu ela sentou-se no chão de terra batida ao redor de uma pequena fogueira, fechou os olhos e sobre a influência da música começou a ouvir as batidas de seu coração, em seguida sentia sua respiração como o único elo que a prendia a seu corpo. Sentiu a presença de animais e pessoas naquele ambiente, cheiro de frutas e plantas. Ela se voltou para dentro de si e pode se ter por inteira.

Não sentiu medo, sabia que não ia se perder, estava  encontrando com sua alma. O índio dava voltas ao seu redor e cantando assoprava uma fumaça grossa e cheirosa sobre ela fazendo uma limpeza em sua aura.

Foi um estalar de dedos e ela sentiu que estava em outro espaço outra dimensão, desta vez mais de um índio, um grupo de cinco entre homens mulheres e crianças. O local era uma caverna com linda cachoeira, eles cantavam e continuavam limpando e curando seu campo energético, foi quando ela começou a sentir como eles se sentiam, seres humanos sem nenhum stress, sem angustias, sem desejos, sem vaidades…eles estavam apenas conectados ao presente, inteiros, sem passado ou sem futuro, estavam lá assim como a água, a terra, as plantas... "inteiros"

Ligada a música começou a sentir se assim também, inteira, conectada, apenas lá naquele recanto junto a si mesma.  Sentiu a luz profunda e morna de seu amor próprio com gosto de manjericão na boca e paz no coração.

Foi espreguiçando e olhou para o relógio pensando em viver apenas aquele momento.

Tina coelho

sábado, 30 de agosto de 2014

Fim



Fino acabamento é quando a parede precisa ser lixada...
Nivelada, amaciada para entender que tudo tem fim!
Um fim dentro de mim...

Um fim dentro de ti...
Fim de coisas...
Fim de pessoas....
Fim da noite...
Fim da morte...
Nasce aqui todo dia dentro de mim a angustia do fim!
Tina coelho

Beija flor



Mora nos meus sonhos sua doçura...
Permeada de singela ternura.
Mora nos meus sonhos seu encantamento...
Sua magia.
Tanta afinidade no presente.
No entanto seu coração mora em um mundo distante...
Bem diferente desse modo nosso de ser.
Tina Coelho