Fragmentos
de um livro Cigano
Um
vento forte e frio adentrou a barraca da cigana Ligia...
Ela
estava pondo as cartas sobre a colcha grossa de lã em sua carroça, pressentiu
uma dor profunda e seu coração começou a bater mais forte. As cartas deixavam
claro...ia acontecer uma morte, e para seu coração só poderia ser seu
amado...Gildo.
Levantou
se rapidamente, sacudiu a saia farta de babado e cores, passou a mão sobre o
coração na esperança de arrancar o sentimento. E um desejo insano de evitar o
acontecimento tomou conta de sua alma.
Desceu de sua carroça e sentiu a poeira grossa nas solas dos pés,
desatrelou o cavalo e montou seu dorso com fúria e determinação, saiu em
disparada para o local onde sabia estar seu amado.
Não
ela não ia permitir que ele fosse embora antes dela novamente, já havia
acontecido em outras vidas, sabia disso, e agora não ia deixar isso acontecer
novamente.
Em
um galope insano correu mata adentro pedindo aos céus um milagre, sentiu o
olhar de tristeza da lua, o ar da mata cheirava a jasmim seu cheiro favorito.
Rogou aos quatro elementos, a agua para lavar toda a sua dor, ao fogo para
queimar aqueles pensamentos, ao ar para levar para longe a desgraça que estava
para acontecer, e a terra para enterrar aquela sina de muitas outras vidas, que
insiste em não deixar ela viver para todo sempre com seu amado.
Perdeu
seu amado por muitas e muitas vidas, mas agora seria diferente, ela era uma
cigana mais esperta, auspiciosa na leitura das cartas, e soube a hora certa de
interromper este maldito destino, ia chegar a tempo e tirar o punhal que estava
cravado no peito de seu amado.
Ouvia
ao longe o pio da coruja, este mal agouro era apara outra cigana, pensou
arfando e com lágrimas banhando sua face. O cavalo obedecia ao seu comando
correndo em disparada, cúmplice daquele pacto de amor. Sim, um pacto entre eles,
feito na cachoeira quando ainda eram crianças e se reconheceram como amantes
eternos. Cortaram as palmas das mãos unindo o sangue de suas veias como um
único rio, um único destino.
Bem a sua frente a clareira que viu nas
cartas, no chão seu amado estirado e rodeado de sangue, pulou do cavalo e se
atirou sobre ele gritando... Amado, amado...não me deixe novamente...fique comigo.
Num
gesto alucinado tirou o punhal que em seu peito estava enterrado...ele suspirou
e fechou os olhos como se estivesse esperando ela chegar para morrer de fato.
Ela gritou sua dor aos prantos, relutou até que a dor a deixou no chão.
A
lua que tudo observava, jogou para ela um manto prateado que envolveu seu corpo
dilacerado...e foi assim que ficou profetizado...seu amor agora seria para a
lua até que ela encontre de novo em outras vidas o seu amado.
Tina
Coelho
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