Ela
Ela me deu tanto...
Quando eu era criança ela lavava meus cabelos, andava comigo
de mãos dadas, me falava de música, moda...coisas de menina moça. Ela era
adolescente e eu criança...
Nadava comigo em nossa piscina improvisada (um grande tambor
de latão).
Eu cuidava dela, vigiando...para ela não namorar...a mando
de minha mãe.
Admirava ela dançar no clube do Estreito, a dança de rosto
colado com o namorado, o balanço suave do IÊ IÊ IÊ, que chacoalhava seus lisos
e loiros cabelos que emolduravam tão bem os seus olhos claros.
Minha mãe cuidava de nós... do jeito dela...e o casamento
era sempre o final feliz para todas.
Ela casou e foi embora, viver as dores e alegrias a que toda
mulher se submetia, na nossa juventude. Onde tudo se resumia a casar ter e cuidar
dos filhos a qualquer custo.
Eu também segui a cartilha, me casei com 19 anos, e segui
para as alegrias e tristezas que a maioria das mulheres seguiam naqueles idos
anos de 1979.
A vida nos separou, com alguns encontros ao longo dos anos,
e nestes encontros nosso principal assunto era a alegria de ter nossos filhos e
ama-los com tanta paixão. O outro assunto era sempre as reclamações das
dificuldades impostas pelos casamentos.
E assim vivemos por alguns anos sem nos encontrar...
Então veio o WhatsApp e a pandemia, e voltamos a falar. Com a
demora da pandemia e a nossa solidão, ela morando sozinha em Ribeirão preto e
eu sozinha em Varginha, as nossas conversas passaram a ser duas vezes ao dia,
com mensagens e longos telefonemas, onde passamos as nossas vidas a
limpo...relembramos a nossa infância, os nossos avós, nossos pais, nossos irmãos,
casamentos. Com nossos telefonemas se tornou possível resinificar as nossas histórias,
que tiveram momentos muito difíceis e também momentos felizes.
Descobrimos juntas quantas coisas ruins vivemos, por causa
das crenças familiares e culturais.
O quanto nos submetemos
a padrões impostos pela sociedade, como nos abandonamos enquanto mulheres, pensando
estar agradando o outro, com medo de não ser amadas.
Deixamos de fazer por nós mesmas, adoecidas em um sistema
que coloca a mulher como um ser servil e submissa.
E foi assim com programações futuras, de um encontro...
quando a pandemia passar, para comer pizza, tomar sorvete e dar muitas risadas ...que
nos despedimos no domingo, para meu celular emudecer e você sumir...
Como assim? Foi embora antes de mim!
Não se despediu para
sempre...porque as despedidas são para os que não se amam...e para os que não
acreditam na eternidade.
Descansa... minha querida irmã Marli... os nossos corações
estão juntos por toda eternidade.
Tina coelho
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