Sinto por perto uma cigana dentro de mim.
Louca, desmedida sem pressa, sem fim. Ela pode tudo!
Dançar, cantar, rodopiar...
Sem teto... só uma carroça,
Saia rodada e blusa de cetim,
Pele cheirosa... boca cheia de carmim.
Sem vergonha brinca, sorri... canta, se exibe...
Sente o prazer de estar aqui...
Cigana de vários amores, mas ela é a dona de si!
Há... mas sem demora, a vista se torna nebulosa e aparece uma santa...
Vem incorpora! Apossa-se de mim!
A obreira a padroeira que aparece... E faz a cigana sumir!
Tira tudo... se cobre com o manto do pecado, do pudor da mesura do desamor.
Santa que insiste em aparecer. Vêm fazer sacrifícios, penitências, desavenças...
Só a dor sentir.
Roupa podia cheiro de naftalina, casa de pedra, boca enrugada,
Cara lavada, sem viço...
...seca, paralisada! Só para não sentir.
Coisa suja e crua essa santa nojenta...
Que saia de mim! Esconjuro-te... Desapareça!
Para que eu não enlouqueça... deixa a cigana surgir.
Há... vem cigana...vem cantar, vem dançar...
Acende a fogueira, toca o pandeiro... gira...rodopia...sem coreografia sem senso. Atira flores aos homens, inveja as mulheres.
Brota por dentro que nem acalanto, trás o gozo inebriado sem pecado.
Lê a sorte... mostra riqueza
...grandes amores, poucos dissabores.
Há... mas vem logo, vem tomar conta de mim !
Antes que eu enlouqueça e essa santa maldita apodreça...
...dentro de mim!
Cristina Coelho